Antonio de Paula Oliveira

HOLOCAUSTO BRASILEIRO
Em 1903, foi fundado o Hospital Colônia de Barbacena, que aos poucos foi se tornando em um lugar macabro

O município de Barbacena, em Minas Gerais, foi escolhido para abrigar o hospital especializado em tratamento de tuberculose por considerar que o clima de montanha fosse o mais ideal. Também, médicos psiquiátricos consideravam que ali seria o lugar ideal para os manicômios.
Em 1903, foi fundado o Hospital Colônia de Barbacena, que aos poucos foi se tornando em um lugar macabro, de tratamentos tão perversos nos métodos que eram usados para conter a revolta dos pacientes: as terapias com choque elétrico, o isolamento sem vestes ao relento de grande frialdade, a fome e os castigos terríveis que os pacientes sofriam era uma situação cotidiana. Ali, os trens chegavam com inúmeros vagões com homens, mulheres e crianças. A maioria eram seres humanos indesejados pelas famílias e pelo Estado.
Eram alcoólatras, andarilhos, pretos, loucos, prostitutas, mulheres estupradas por patrões, pessoas com incapacidade física e intelectual, muitas sem diagnóstico de doenças mental. Os pavilhões sombrios eram conhecidos como câmeras da morte. Faltavam tudo para eles: alimentação, roupas, remédios, camas e, principalmente, dignidade. Só não faltavam as pílulas: rosa para dormir e azul para os que eram considerados quietos demais. Muitos eram sojigados a trabalhos escravos na Colônia.
Estima-se que morreram 60 mil pessoas que foram jogadas no Hospital Colônia de Barbacena pelo sistema caótico e desumano. Podemos dizer que foi a mais silenciosa tragédia brasileira de todos os tempos, ocorrida no século XX.
A expressão mineira “trem de louco” era usada para avisar que vagões cheios chegavam frequentemente à Barbacena, vindo de diversas regiões do país.
A jornalista e escritora Daniela Arbex escreveu um livro, “Holocausto Brasileiro”, sobre o manicômio de Barbacena. Um livro bem escrito com muitas entrevistas e pesquisas que logo virou um documentário para a televisão e streaming.
Da primeira à última cena do documentário, viajamos por oito décadas na escuridão sombria da alma humana. O documentário mostra a crueldade despejadas a todos que passaram pelos manicômios de Barbacena.
A exposição do fato traz uma triste realidade desconhecida da grande maioria dos brasileiros. A história ficou guardada nos escombros de um sistema falho, sobre a égide de todos que vivenciaram aquele período.
Os atores sociais tiveram responsabilidade e atitudes distintas. A enfermeira Walkiria Monteiro fala sobre os pacientes vitimados, com a voz embargada e o olhar distante, como se estivesse lembrando de tudo com dor no coração. O chefe do departamento de trabalhos de reformas e construções, Milton Raposo, faz um comparativo horripilante, fala sem pudor; “um paciente é igualzinho um cachorro, é só ralhar e estalar o dedo para impor respeito”.
Quando o fotógrafo Luiz Alfredo conta sobre seu trabalho no manicômio e vão aparecendo as fotos, fica fácil de entender a opressão naquele momento. A fala de Francisca Ribeiro sobre o trabalho que os pacientes faziam em troca de um maço de cigarros e tantos outros momentos de grandes dramatizações.
As sequências mostradas no documentário vão permeando as narrativas com as imagens e entrevistas com muita objetividade.
Na denominação do teórico americano Bill Nicholas, “Holocausto Brasileiro” é um documentário reflexivo. Não se pode permitir um erro tão castigante sobre uma população indefesa.
Estudos sobre o ser humano têm como objetivo compreender os anseios de todos, garantindo o direito à vida com dignidade, resguardando a saúde e os direitos iguais. O homem não d
O homem não deve sublevar à ciência psicanalítica para distorcer a regra normal da vida.
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