Rosivaldo Casant

UM NOME E VÁRIAS HISTÓRIAS
Ao me apresentar aos alunos que nunca haviam tido aulas comigo, eu quebrava o gelo com a leitura de “História de um nome”, de Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo de Sérgio Porto), que apresentava Seu Veiga e sua obsessão por livros e filhos

UM NOME E VÁRIAS HISTÓRIAS
Ao me apresentar aos alunos que nunca haviam tido aulas comigo, eu quebrava o gelo com a leitura de “História de um nome”, de Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo de Sérgio Porto), que apresentava Seu Veiga e sua obsessão por livros e por colocar filhos no mundo, registrando-os com nomes relacionados às partes de um livro. Eu emendava contando sobre um pesquisador que foi ao “Programa do Jô” e narrou a saga de uma família, cujo pai pôs nas filhas os nomes Original, Xerox, Fotocópia e Autenticada. Eu lhes falava de um aluno, dos primeiros anos como professor, que se chamássemos o seu nome como estava na chamada, ele não voltava no dia seguinte e nos demais do ano; às vezes, só retornava no ano seguinte. Passamos a ter a precaução de anotar a lápis na margem do diário o nome pelo qual queria ser chamado, pois não nos interessava perdê-lo. Daí, eu brincava com meu próprio nome, diminuindo, consideravelmente, nos estudantes, aquele gosto perverso do adolescente de “cascar o bico”, o que, numa tradução livre seria o correspondente a “tirar o sarro do professor”. Se não ajudei com o significado exato da gíria, ao menos tentei contribuir na compreensão do que pode ocorrer numa sala de aula.
Com o passar dos anos, fui sofisticando a apresentação e passei a oferecer um significado um pouco mais glamuroso ao meu nome: “Governador das Rosas” (rosi, ou rose=rosa, sendo que o “i” traz a ideia de plural no latim; lupus=lobo, lupi=lobos; portanto, rosi=rosas. Vald (do teutônico, antecessor do alemão)=governador. É certo que isso tinha mais efeito em mim que nos alunos. Alguns anos depois, transferindo-me de São Bernardo para a Praia Grande, vi o “rosi” se transformar em sua pronúncia: Professor Rosiii (com o “i” prolongado)
Quando trabalhei como funcionário do SERPRO, no Ministério da Fazenda, tive acesso às microfichas para a pesquisa de CPFs e constatei que havia Rosivaldos por todo o país; não sendo poucos. Essa descoberta amenizou o desconforto que o meu nome trouxe durante toda a adolescência.
Certa vez, eu estava na sala dos professores, pois não tinha turma para dar aula depois do intervalo daquela tarde e escutei um estampido que julguei ser uma bombinha dos folguedos juninos, pelo período do ano que atravessávamos. De repente. uma colega entra na sala apavorada e pede para eu subir e ajudar um colega que segurava um aluno atingido por um tiro de revólver. Saí rumo ao corredor superior e ajudei o professor a ajeitar o menino da melhor forma possível para levá-lo ao meu carro e em seguida, com toda pressa ao pronto socorro. Um médico disse que ele poderia ter morrido em nossas mãos. Retornamos à escola e quando lá chegamos, adivinhem quem nos aguardava para apanhar nossos depoimentos? O soldado Rosivaldo. Só para constar, o aluno sobreviveu, ainda que com algumas sequelas na mobilidade.
Alguns meses depois, entrávamos, eu e minha esposa, na agência bancária do Paço Municipal de São Bernardo e passamos por um grupo da Guarda Municipal; ouvi alguém dizer: “Mas esse Rosivaldo é um palhaço mesmo!”. Eu me aborreci, mas receei tomar satisfação com tantos fardados. Entramos, fizemos o que tínhamos que fazer e retornamos, reencontrando o mesmo grupo. Eu havia ficado intrigado, imaginando que poderia ter sido algum ex-aluno ou um amigo que eu não tivesse reconhecido por estar uniformizado; então, parei e me dirigi a um dos jovens: “Posso perguntar uma coisa? Qual é o problema com o Rosivaldo? Vocês citaram meu nome quando eu passei por aqui há alguns minutos.” Ficaram surpresos, mas um deles foi logo dizendo: “Desculpe, senhor, o Rosivaldo é esse policial aqui. Ele é o sujeito que nos diverte e estávamos comentando mais uma das suas.” Tudo esclarecido e meio sem graça, nos despedimos e seguimos para outro destino.
Meu sogro comprou uma casinha em Ilha Comprida, litoral sul do Estado de São Paulo e nos fez comprar um terreno lá também. Quem vendia era uma pessoa que não tinha a propriedade no seu nome. Estava no nome de quem? Sim, de um tal Rosivaldo. Descobri isso quando recebi os documentos por whatsapp para a elaboração do contrato de compra e venda. Jamais o conheci pessoalmente, pois quem realizou o negócio se incumbiu de colher as assinaturas e fazer o serviço de cartório. A possibilidade de um Rosivaldo vender um terreno para outro Rosivaldo demorou um tempo para a absorção, inclusive de quem vendeu, suponho.
Um dia desses, meu filho me alertou que uma colega sua de trabalho estava vendendo uma mesa e bancos de madeira maciça por um bom preço e se eu não estaria interessado. Fui visitar meu filho na empresa e conheci sua colega. Conversamos sobre a qualidade da madeira, sobre transportes e acertamos o valor; então, ela disse que não sabia o meu nome, pois só me conhecia como o pai do colega de serviço. Eu disse meu nome. Ela arregalou os olhos, dizendo que Rosivaldo também era o nome de seu pai.
Na mesma semana em que descobri que o pai da moça que me vendeu a mesa era meu “chará”, recebi um bom dia bastante entusiasmado de um grande amigo, cumprimentando-me pelo aniversário. Mostrei para a minha esposa e ela contemporizou dizendo que poderia ser um outro Rosivaldo e meu amigo tivesse se confundido. Eu disse que não acreditava nessa hipótese e mandei uma mensagem: “Bom dia, meu querido João! Mas, parabéns pelo que, homem de Deus? Abraço.” Ao que imediatamente respondeu: “Meu irmão, desculpa. Nós temos dois Rosivaldos” ... “É um amigo do tempo do quartel, está morando em Santa Catarina”. Como se vê, o ineditismo do nome inexiste faz tempo. Isso não o torna o mais bonito entre os nomes, mas passar do exótico para o comum deixa o capítulo dos nomes mais interessante.
COMENTÁRIOS
Renilda
em 28/04/2025
Kkkkk! O problema não é conhecer outros Rosivaldos, mas as coincidências pelo caminho . Legal, belo texto. Bom, eu ainda não encontrei outra Renilda😂😂
Denis
em 25/04/2025
quando comprei a casa da Ilha em 2014 não sabia que ja tinha um vizinho Rosivaldo.... agora eu conheço pessoalmente ao menos um!! kkkk
Jailton
em 21/03/2025
Parabéns amigo pela crônica mas nomes diferentes acho que estamos juntos...
Vera
em 21/03/2025
Kkkkkk. Também demorei para me acostumar com o teu nome. Mas garanto que não lhe tira nenhum mérito.Você realmente é cheio de rosas com caules espinhosos. Mas as rosas é que prevalecem belas, delicadas e perfumadas. Sua cabeça, cheia de boas coisas.Val, sim governa bem a sua vida, as suas amizades, a sua profissão e os seus objetivos!Parabéns! Assuma de vez o seu nome!
Rosivaldo
em 08/04/2025
Jailton nem é um nome tão diferente e incomum, mas não é nenhum Yuri ou Noah, é verdade, meu amigo! Vera eu sou completamente assumido há muito, hahahaha (onomatopeia de risada, que no whatsapp é kkkkkkkk). O nome Rosivaldo Casant, então, representa-me muito.