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São Paulo,09/05/2025

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Rosivaldo Casant

UM NOME E VÁRIAS HISTÓRIAS

Ao me apresentar aos alunos que nunca haviam tido aulas comigo, eu quebrava o gelo com a leitura de “História de um nome”, de Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo de Sérgio Porto), que apresentava Seu Veiga e sua obsessão por livros e filhos

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UM NOME E VÁRIAS HISTÓRIAS Sala de aula

UM NOME E VÁRIAS HISTÓRIAS



 Ao me apresentar aos alunos que nunca haviam tido aulas comigo, eu quebrava o gelo com a leitura de “História de um nome”, de Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo de Sérgio Porto), que apresentava Seu Veiga e sua obsessão por livros e por colocar filhos no mundo, registrando-os com nomes relacionados às partes de um livro. Eu emendava contando sobre um pesquisador que foi ao “Programa do Jô” e narrou a saga de uma família, cujo pai pôs nas filhas os nomes Original, Xerox, Fotocópia e Autenticada. Eu lhes falava de um aluno, dos primeiros anos como professor, que se chamássemos o seu nome como estava na chamada, ele não voltava no dia seguinte e nos demais do ano; às vezes, só retornava no ano seguinte. Passamos a ter a precaução de anotar a lápis na margem do diário o nome pelo qual queria ser chamado, pois não nos interessava perdê-lo. Daí, eu brincava com meu próprio nome, diminuindo, consideravelmente, nos estudantes, aquele gosto perverso do adolescente de “cascar o bico”, o que, numa tradução livre seria o correspondente a “tirar o sarro do professor”. Se não ajudei com o significado exato da gíria, ao menos tentei contribuir na compreensão do que pode ocorrer numa sala de aula. 

Com o passar dos anos, fui sofisticando a apresentação e passei a oferecer um significado um pouco mais glamuroso ao meu nome: “Governador das Rosas” (rosi, ou rose=rosa, sendo que o “i” traz a ideia de plural no latim; lupus=lobo, lupi=lobos; portanto, rosi=rosas. Vald (do teutônico, antecessor do alemão)=governador. É certo que isso tinha mais efeito em mim que nos alunos. Alguns anos depois, transferindo-me de São Bernardo para a Praia Grande, vi o “rosi” se transformar em sua pronúncia: Professor Rosiii (com o “i” prolongado)

Quando trabalhei como funcionário do SERPRO, no Ministério da Fazenda, tive acesso às microfichas para a pesquisa de CPFs e constatei que havia Rosivaldos por todo o país; não sendo poucos. Essa descoberta amenizou o desconforto que o meu nome trouxe durante toda a adolescência.

Certa vez, eu estava na sala dos professores, pois não tinha turma para dar aula depois do intervalo daquela tarde e escutei um estampido que julguei ser uma bombinha dos folguedos juninos, pelo período do ano que atravessávamos. De repente. uma colega entra na sala apavorada e pede para eu subir e ajudar um colega que segurava um aluno atingido por um tiro de revólver. Saí rumo ao corredor superior e ajudei o professor a ajeitar o menino da melhor forma possível para levá-lo ao meu carro e em seguida, com toda pressa ao pronto socorro. Um médico disse que ele poderia ter morrido em nossas mãos. Retornamos à escola e quando lá chegamos, adivinhem quem nos aguardava para apanhar nossos depoimentos? O soldado Rosivaldo. Só para constar, o aluno sobreviveu, ainda que com algumas sequelas na mobilidade.

Alguns meses depois, entrávamos, eu e minha esposa, na agência bancária do Paço Municipal de São Bernardo e passamos por um grupo da Guarda Municipal; ouvi alguém dizer: “Mas esse Rosivaldo é um palhaço mesmo!”. Eu me aborreci, mas receei tomar satisfação com tantos fardados. Entramos, fizemos o que tínhamos que fazer e retornamos, reencontrando o mesmo grupo. Eu havia ficado intrigado, imaginando que poderia ter sido algum ex-aluno ou um amigo que eu não tivesse reconhecido por estar uniformizado; então, parei e me dirigi a um dos jovens: “Posso perguntar uma coisa? Qual é o problema com o Rosivaldo? Vocês citaram meu nome quando eu passei por aqui há alguns minutos.” Ficaram surpresos, mas um deles foi logo dizendo: “Desculpe, senhor, o Rosivaldo é esse policial aqui. Ele é o sujeito que nos diverte e estávamos comentando mais uma das suas.” Tudo esclarecido e meio sem graça, nos despedimos e seguimos para outro destino.

Meu sogro comprou uma casinha em Ilha Comprida, litoral sul do Estado de São Paulo e nos fez comprar um terreno lá também. Quem vendia era uma pessoa que não tinha a propriedade no seu nome. Estava no nome de quem? Sim, de um tal Rosivaldo. Descobri isso quando recebi os documentos por whatsapp para a elaboração do contrato de compra e venda. Jamais o conheci pessoalmente, pois quem realizou o negócio se incumbiu de colher as assinaturas e fazer o serviço de cartório. A possibilidade de um Rosivaldo vender um terreno para outro Rosivaldo demorou um tempo para a absorção, inclusive de quem vendeu, suponho.

Um dia desses, meu filho me alertou que uma colega sua de trabalho estava vendendo uma mesa e bancos de madeira maciça por um bom preço e se eu não estaria interessado. Fui visitar meu filho na empresa e conheci sua colega. Conversamos sobre a qualidade da madeira, sobre transportes e acertamos o valor; então, ela disse que não sabia o meu nome, pois só me conhecia como o pai do colega de serviço. Eu disse meu nome. Ela arregalou os olhos, dizendo que Rosivaldo também era o nome de seu pai.

Na mesma semana em que descobri que o pai da moça que me vendeu a mesa era meu “chará”, recebi um bom dia bastante entusiasmado de um grande amigo, cumprimentando-me pelo aniversário. Mostrei para a minha esposa e ela contemporizou dizendo que poderia ser um outro Rosivaldo e meu amigo tivesse se confundido. Eu disse que não acreditava nessa hipótese e mandei uma mensagem: “Bom dia, meu querido João! Mas, parabéns pelo que, homem de Deus? Abraço.” Ao que imediatamente respondeu: “Meu irmão, desculpa. Nós temos dois Rosivaldos” ... “É um amigo do tempo do quartel, está morando em Santa Catarina”. Como se vê, o ineditismo do nome inexiste faz tempo. Isso não o torna o mais bonito entre os nomes, mas passar do exótico para o comum deixa o capítulo dos nomes mais interessante.




COMENTÁRIOS

Kkkkk! O problema não é conhecer outros Rosivaldos, mas as coincidências pelo caminho . Legal, belo texto. Bom, eu ainda não encontrei outra Renilda😂😂

quando comprei a casa da Ilha em 2014 não sabia que ja tinha um vizinho Rosivaldo.... agora eu conheço pessoalmente ao menos um!! kkkk

Parabéns amigo pela crônica mas nomes diferentes acho que estamos juntos...

Kkkkkk. Também demorei para me acostumar com o teu nome. Mas garanto que não lhe tira nenhum mérito.Você realmente é cheio de rosas com caules espinhosos. Mas as rosas é que prevalecem belas, delicadas e perfumadas. Sua cabeça, cheia de boas coisas.Val, sim governa bem a sua vida, as suas amizades, a sua profissão e os seus objetivos!Parabéns! Assuma de vez o seu nome!

Jailton nem é um nome tão diferente e incomum, mas não é nenhum Yuri ou Noah, é verdade, meu amigo! Vera eu sou completamente assumido há muito, hahahaha (onomatopeia de risada, que no whatsapp é kkkkkkkk). O nome Rosivaldo Casant, então, representa-me muito.

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