Marajó: A ilha do tráfico e exploração sexual infantil no Pará
Entre os anos de 2016 e 2022, 5.440 denúncias foram feitas pelo disk 100

A população da Ilha de Marajó, no Pará, retomou as cobranças direcionadas aos políticos, autoridades e órgãos públicos para que tomem medidas eficazes contra os casos de tráfico humano de menores de idade destinados à prostituição sexual. A indignação ressurgiu após a circulação de um vídeo, na última sexta-feira (16), no qual a cantora Aymeê Rocha aborda o desaparecimento de uma criança, gerando grande repercussão nas redes sociais. A música menciona denúncias de exploração sexual.
Segundo o levantamento feito por uma CPI em 2019, documentos revelaram o envolvimento de políticos locais nos casos, com aliciadores levando crianças para se prostituirem em Belém e na Guiana Francesa. Segundo a pasta a época, foram registrados, entre os anos de 2016 e 2022, 5.440 denúncias pelo Disque 100 (canal de denúncias do ministério) de exploração sexual de menores no estado do Pará.
A Ilha de Marajó abriga o município com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil. Essa problemática ganhou evidência em 2019, quando a então ministra da Família e Direitos Humanos, Damares Alves, alertou sobre um grande esquema de tráfico e prostituição de menores na região. Naquela ocasião, a atual senadora pelo Republicanos lançou o programa Abrace o Marajó, visando implementar ações sociais para reduzir a fome, apontada como fator determinante para o alto índice de exploração sexual infantil, dado que as crianças estariam se prostituindo por falta de alimentação adequada.
Entretanto, o programa recebeu críticas de organizações civis e instituições públicas devido à sua baixa efetividade no arquipélago. Em 2021, o Ministério Público Federal (MPF), a Defensoria Pública da União (DPU), o Ministério Público do Pará (MPPA) e a Defensoria Pública do Estado do Pará (DPE) questionaram o governo federal sobre as denúncias.
No ano seguinte, em 2022, após Damares retomar o assunto em um culto evangélico, autoridades do Pará, como o Ministério Público estadual, solicitaram à então ministra a apresentação de provas das acusações, as quais nunca foram fornecidas. O Ministério Público Estadual moveu uma ação civil pública contra a senadora. Por sua vez, o Ministério Público Federal acionou a União e a ex-ministra, solicitando uma indenização de R$ 5 milhões por danos sociais e morais coletivos, a ser destinada a projetos sociais na região.
Atualmente, a Ilha do Marajó é beneficiada pelo Programa Cidadania Marajó, lançado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, com o intuito de combater o tráfico e o abuso sexual de crianças e adolescentes.
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