Carlos Valentim

A Camisa Vermelha da Seleção Brasileira e o Reflexo da Polarização no País.
“A camisa amarela foi tomada por um lado. Agora, parte da sociedade vê a camisa vermelha como uma resposta. Estamos vivendo um sequestro de símbolos nacionais”, comenta a antropóloga Marina Souza.

A Camisa Vermelha da Seleção Brasileira e o Reflexo da Polarização no País.
O lançamento da camisa vermelha da Seleção Brasileira, inspirada nas origens indígenas do futebol nacional e na cultura popular, reacendeu um debate que extrapola os gramados: o da polarização política no Brasil. Em meio a um país dividido, até as cores do futebol – antes símbolo de união – viraram combustível para discursos ideológicos acalorados.
A cor da discórdia
A camisa vermelha, apresentada como uma homenagem às raízes culturais brasileiras foi rapidamente associada por setores da sociedade à esquerda política. Nas redes sociais, não faltaram comentários acusando a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) de “politizar” o esporte. Para alguns, vestir vermelho é um gesto que remete diretamente a partidos e movimentos progressistas. Para outros, é apenas uma variação estética e histórica, como tantas outras ao longo dos anos.
A própria CBF afirmou que a nova camisa resgata elementos ancestrais e representa “o sangue e a força do povo brasileiro”. No entanto, em um Brasil profundamente dividido, até o simbolismo mais nobre é filtrado por lentes partidárias.
Futebol como campo político
Historicamente, o futebol já foi usado como ferramenta política — tanto por regimes autoritários como por movimentos populares. A própria camisa amarela da Seleção, hoje carregada de significados, já foi ressignificada politicamente nas últimas eleições.
“O problema não está na camisa, mas na forma como o brasileiro passou a ver tudo como um marcador ideológico”, analisa o sociólogo Carlos Mendes, da Universidade Federal de Pernambuco. “No atual contexto, qualquer símbolo público é imediatamente interpretado dentro de uma lógica de ‘nós contra eles’”.
Símbolos sequestrados
O futebol, que por décadas foi um dos poucos espaços de identidade coletiva nacional, parece agora ser mais um terreno contaminado por divisões políticas. A camisa da Seleção, que já representou alegria, pertencimento e até orgulho patriótico, agora sofre com a fragmentação simbólica.
“A camisa amarela foi tomada por um lado. Agora, parte da sociedade vê a camisa vermelha como uma resposta. Estamos vivendo um sequestro de símbolos nacionais”, comenta a antropóloga Marina Souza.
O que realmente está em jogo?
No fundo, a polêmica escancara uma ferida aberta: o desgaste das instituições de representação nacional, somado ao uso simbólico da cultura para disputas ideológicas. A camisa vermelha não é por si só, a causa da polarização — é apenas mais um espelho de uma sociedade que perdeu a capacidade de enxergar o outro sem medo ou raiva.
Enquanto isso, quem realmente perde é o futebol — e o povo brasileiro — que vê um símbolo de paixão coletiva ser transformado em mais um divisor de opiniões.
A camisa vermelha poderia ser uma celebração da pluralidade brasileira. Mas num país onde as cores dizem mais sobre política do que sobre cultura, até o futebol precisa driblar o extremismo para continuar jogando.
Talvez, mais do que discutir a cor da camisa, fosse hora de discutir o motivo pelo qual nosso olhar coletivo ficou tão estreito — e tão desconfiado.
Por: Carlos R. Valentin
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