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São Paulo,09/05/2025

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Rosivaldo Casant

É BROOKLIN OU É BRÁS?

Lá ia eu pela calçada da Avenida Bandeirantes, no sentido do Aeroporto de Congonhas, pois eu havia descido do ônibus da Viação Urubupungá na Avenida Berrini e me dirigia à casa de meu irmão, numa rua paralela à que eu caminhava, já chegando à Vila Olímpia

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É BROOKLIN OU É BRÁS? Avenida Bandeirantes

É BROOKLIN OU É BRÁS?


Lá ia eu pela calçada da Avenida Bandeirantes, no sentido do Aeroporto de Congonhas, pois eu havia descido do ônibus da Viação Urubupungá na Avenida Berrini e me dirigia à casa de meu irmão, numa rua paralela à que eu caminhava, já chegando à Vila Olímpia. Passos largos, cabeça erguida e olhar atento; sabe como é, né, com o movimento intenso de veículos, jardins espaçosos e gente dormindo sob árvores e sobre bancos por todos os lados, a gente se sente meio que refém do medo de um confronto inesperado com alguém sob efeito de álcool ou outra substância entorpecente, das tantas que despejadas a todo momento nas ruas de São Paulo. 

Em alerta constante, percebi que um Tipo, carro da Fiat, um dos mais bonitos da época, passou por mim e dobrou à direita na esquina seguinte, parando logo que virou, numa manobra que deixava o automóvel de um jeito a poder causar uma colisão, considerando que a via era mais uma ruela para o trânsito em mão dupla. O motorista procurou encostar o carro o máximo que pode na guia, de forma a interferir o menos possível na circulação local de veículos. Fiquei de orelhas em pé, como um cão que pressente perigo.

Tive que continuar na calçada em que estava e seguir na direção do carro parado mais à frente, pois a travessia para pedestres estava bem ali naquele ponto. À medida que caminhava e encurtava a distância, dois sujeitos que haviam saído do veículo passaram a me encarar, quase como numa paquera entre moças e rapazes na praça na matriz numa cidadezinha do interior numa noite de sábado. “Ih! Qual a desses caras?” — eu me perguntei. — “Será que querem me assaltar?” — minimizei, considerando a possibilidade do flerte mais perigosa. Como as orelhas já estavam em pé, como as do “Senhor Spock, em Jornada nas Estrela”, levantei a sobrancelha direita, fiz cara de mau e encarei os camaradas, seguindo no meu trajeto, querendo parecer não estar nem aí com eles.

O momento de maior aproximação chegou e, enquanto um dos indivíduos se curvou para dentro do carro para apanhar algo, o outro, se dirigiu a mim num portunhol, carregado de um forte acento italiano, o que complicava bastante compreender o que dizia.

— “Podes fazer um favor para nosotros? Puedes entender lo que te digo?” — Tudo acompanhado de muita gesticulação. 

Minha cara de susto e incompreensão deve ter perturbado o homem que pegava algo dentro do carro, ao ponto de ele pôr-se em pé, ao lado do companheiro, com duas jaquetas no braço esquerdo e tentar ajudar o amigo na comunicação. Não ajudou. Fez foi confundir-me mais.

— Se vocês falarem devagar e um de cada vez, é capaz que eu os entenda.

Disseram que estavam indo para o aeroporto. Chegaram a mostrar, de forma rápida, seus passaportes italianos. Não pude me certificar se verdadeiros ou não. A história deles era de que haviam participado de uma feira de importados e representavam a marca Valentino e iam mais longe se eu não os interrompesse.

— Não consigo entender em que posso ajudá-los, senhores!

— Quando o vimos andando, percebemos que você tem o tamanho de alguns casacos que restaram do evento e resolvemos lhe oferecer. — E eu que já ia pensando que fossem me levar para a Europa como modelo. Caí na real e pensei: “Esses caras estão arrumando pra mim!” Procurei dar um basta imediato naquela história esquisita, sem provocá-los, considerando que os camaradas eram de boa compleição física.

— Vejam, sinceramente, eu não estou interessado. 

— Mas está muito barato! 

Aí é que me grilei mesmo. Eu os olhei com um jeito de quem se cansara da brincadeira. O italiano que negociava justificou sua proposta:

— Está vendo estes três casacos? — pegando mais um no banco de trás — Tudo por quinhentos dólares. Cada casaco destes foi vendido por oitocentos dólares. Estou oferecendo a você três por quinhentos.

— Obrigado, mas não tenho esse dinheiro.

— Olha, nós precisamos de dinheiro brasileiro para pagar o aluguel do carro. Está vendo aquelas roupas ali? — Uns seis ou sete casacos — Mais os três que já mostrei por mil e quinhentos dólares. Mas precisamos receber em reais.

— Pra mim não dá.

— Nós precisamos de mil e quinhentos dólares. Faz assim: quanto você pode me pagar?

Olhei aqueles casacos lindíssimos e desejei tê-los. Calculei ... calculei, mas não me vinha à mente algo que pudesse se parecer com uma contraproposta. E olha que, pelo que eu percebi, quase que estavam aceitando tíquete-refeição. 

— Sinto muito, mas não tenho grana na conta

— Quanto você tem?

— Raspando tudo, tudo, menos de um terço da sua proposta.

— Só?

— Eu sou professor. É assim mesmo, ainda mais em início de carreira. — quase lamentando.

— Na Itália, professor ganha bem.

— No Japão o Imperador se curva diante de um professor. Aqui, tudo é muito diferente.

Vendo que daquele mato não saía coelho, despediram-se, jogaram as roupas para o banco traseiro do automóvel e foram embora. Certamente eu perdi um grande negócio, como ocorreria inúmeras outras vezes por conta do orçamento apertado, mas desde o início se pode perceber que a encenação fazia parte de um grande golpe. Aí a coisa ficou diferente. Não ganhei, mas também não perdi.



COMENTÁRIOS

sendo história real ou não, eu morando relativamente próximo da região do aeroporto e conhecendo das histórias da região, (ainda hoje acontecem golpes similares) e reais!! rsrsrs

Que legal que tenha gostado, minha amiga Vera!

Essa é uma crônica muito boa! Traz um suspense.

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